Zuboff, S., 2021. A era do capitalismo de vigilância. Editora Intrínseca.
O Capitalismo de Vigilância é uma nova ordem capitalista que se concentra na manipulação da vontade para previsão de comportamento e vendas. Isso se traduz como uma manipulação da vontade de compra através de moldagem de comportamento.
Uma das maiores preocupações levantadas por esse tipo de organização, é a segurança e a privacidade. Já que as empresas utilizam desses dados para 'prever' e vender ainda mais. É a liberdade do indivíduo como produto.
A Essência da exploração, é a utilização da nossa vida como dados comportamentais para o aperfeiçoamento e controle de outros sobre nós. [...] Os direitos de escolha desaparecem antes mesmo que o indivíduo tenha ciência de que existe uma decisão a se tomar.
A lógica para acumulação de capital dentro do capitalismo de vigilância, requer o Superávit Comportamental que pode ser considerado um ativo de vigilância. Esses ativos se tornam matéria prima para a busca de receitas de vigilância e sua eventual conversão em capital de vigilância que é a estrutura para a economia de vigilância.
Não somos mais sujeitos da realização de valor, nem produtos, mas sim a matéria prima. De onde são extraídos - expropriados - para as fábricas de predição que geram os produtos que por fim são vendidos para os verdadeiros clientes - anunciantes, parceiros.
Essa acumulação é um ato de despossessão digital onde se extrai (assim como se extrai minérios) os dados de comportamento humanos, removendo o direito individual sobre seus dados e os transformando em recursos para geração e acumulação de capital.
O Superávit Comportamental é a matéria prima do Capitalismo de Vigilância. São os dados extraídos e gerados por um usuário durante seu uso de algum produto da Web. É importante notar, que não apenas os dados necessários para o funcionamento e mantenimento da plataforma, mas também todos os outros dados que 'sobram' e são armazenados, sem uma necessidade final dentro da plataforma. Essa 'sobra' é o superávit.
As tecnologias e técnicas específicas, chamadas no livro de 'Inteligência de Maquina' estão em constante evolução. Essa inteligência se alimenta do Superávit Comportamental e quanto mais o consomem, mais exatos se tornam os produtos de predição. A Inteligência de Maquina no seu estado final na busca pela qualidade só alcança seu potencial pleno quando se aproxima da totalidade do consumo da matéria prima.
Os produtos são as predições elaboradas a partir da matéria prima (Superávit Comportamental) que são projetados para antever o que vamos sentir, fazer, comprar em qualquer período de tempo futuro (agora, amanhã, em alguns anos). Assim, também dá respaldo para que as empresas afirmem que não vendem os dados pessoais das pessoas, mas sim apenas predições que são capazes de fazer a partir deles. Esses produtos de predição reduzem o risco de clientes já que eles agora podem direcionar onde fazer as suas apostas.
Esse mercado negocia quase que exclusivamente comportamento futuro. E ter começado com anúncios foi por acaso. A tendência é qualquer ator que quiser comprar/influenciar ou obter informações probabilísticas de um comportamento futuro pode adquirir nesse mercado comportamental. Dessa forma, o google transformou seu negócio de Busca em um negócio de leilão de comportamento.